A prece do Edgar do 76

Opinião é que nem merda, cada um faz a sua; ninguém conhece a verdadeira origem da dos outros ( estrogonofe, feijão com arroz, purê de batatas ); todas terminam no mesmo lugar; e a dos outros sempre fedem mais. Eu, eu quero uma vidinha de chinelo. Dessas que não se afunda os pés. Quero ser um ser raso, um simples vaso pra quem quiser plantar. Não farei caso se quiser me podar. Eu só quero uma vidinha dessas de cinema tranqüilo.  Uma pra alguém cobrar do seguro. Vou receber as reclamações que os maridos recebem, arrumar as brigas que os idiotas arrumam, sofrer com as perdas que os competidores sofrem, ter os olhos pesados dos que acordam cedo e as amantes dos que sentem a necessidade de amantes. Eu só quero aprender a cultivar uma vidinha assim sem reclamar, sabendo que nada maior tem pra acontecer. Afinal, meu corpo é uma caixa de habitar pensamento, o meu pensamento é uma seqüência lógica aprendida, meu pé tem cinco dedos e isso faz de mim digno de chinelos. E, eu também assisto videos pra ver igual a quem eu posso ser. Junto uns personagens, copio suas linhagens e habito minha caixa por outros, quem sabe não mudo um tanto? Forço um pouco e fico rouco. Só pra se parecer com aquele moço. E quando me cansar que lancem outro, tão rentável quanto o d’outro. Amem.

1 Responses to A prece do Edgar do 76

  1. Prazer em te ler, Kauê. Seu texto é vigoroso, contundente, mas com lirismo para temperar. Visitarei mais vezes.

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