assim foi

22.julho.2010

Uma linda menininha de olhos claros, daquelas com cara de sapeca e que encanta qualquer adulto, pula de pé em pé. Seus cabelos acompanham o saltitar. Em sua mão esquerda ela puxa uma negra, como se fosse sua. A pequena nunca foi educada pelos pais, e admira muito a negra que executa todos os seus pedidos. Mas o dia de hoje cheira a tragédia:

– Parada! –gritou a pequena branquinha-

Ela parou.

– Fingi de morta!

Ela fingiu.

– Não respira! Sem respirar!

Ela prendeu a respiração. A menina ria muito e na sua inocência achava que a negra também se divertia.

– Se você fosse branca já ia estar roxinha.  – ria a branquinha. A negra lá, estendida no chão-

– Cansei dessa brincadeira Dalva! Dalva! Daaaalva!

A menina subiu em cima da negra.

– Quero brincar de cavalo! Cavalo. Dalva? Dalva?

A menina cutucou a negra. Já um pouco assustada.

– Dalva? Pode respirar. Dalva!

A menina colocou a orelha no peito da negra para ouvir seu coração -ela não tinha preconceitos, nunca teve-.

– Bate coração! Bate coração da Dalva! –mas ele já não batia mais-

A pequena correu para o pai, chorando muito.

– Eu matei a negra! Pai, eu matei a negra! –na frente do pai a pequena nunca dizia Dalva, era negra-  Mandei ela parar de respirar!!

– Papai compra outra pra você.

– Mas pai, eu matei!

– Não matou filinha…

– Mas ela fazia tudo o que eu mandava!

A pequena correu. Foi chorar num canto enquanto os bombeiros colocavam o corpo no saco preto.

Dois dias e a menina ainda não tinha superado a crise. O pai tentou arrumar outra negra, mas a pequena recusou. Então tentou conversar com sua filha –esse foi o segundo ensinamento do pai- :

– Minha pequena. Você não matou ela.

– Mas pai…

– Não tem mas. Ela não fazia tudo o que você queria. Tudo bem, as vezes fazia, mas lá no fundo, no seu intimo, tudo o que ela queria era desobedecer você. Obedecia por obrigação. Quase sempre.

– Não é. Ela gostava de mim. Eu sei que gostava!

– Mas filinha, entende o que o papai ta te falando. Ela nunca ia deixar de respirar porque você mandou. Isso não tem cabimento. As vezes ela fazia as coisas, mas por dentro discordava de você.

– Então por que ela fazia?

– Porque assim que é… O papai vai comprar outra você. Uma bem legal, e mais jovem. Branca dessa vez!

– Eu gosto das velhas…

– O papai prefere uma novinha, pode ser?


aqueles

14.julho.2010

passou a língua por entre as partes dela.
dobrou seu corpo em suco. se banhou em mar.
um fundo caldo e perdeu o ar.
saltou de dentro dela para mergulhar em si

timido.

em casulo. apagou-se a luz: escuro.
corpo vestido: corpo em seguro.

tocou-a tentando atravessar o tecido
(ela nao estava nua. ainda que pelada)

a menina virou em água.
derramou-se pelo cama toda.
tentou juntar suas partes.
copos e mais copos cheios.

bebeu-a.


casos de uma S/A

6.julho.2010

Show via tura

Paz sou trocando

Tiros.

Pela das

Vitimas.

Em fim leiradas

No chão.

Pico tadas

No espaço ombroso

Show de horror.

Não se sabe ia

Onde comer çava

Umbral ço e terminava o outro.

Como palavras pau zadas se com fundiam

Como vi das numa cida de de marca da.


1.julho.2010

ela:

Quando você apertou minha mão daquele jeito que você aperta, jeito que tantas vezes me fez sentir segura que eu me dei conta. –“Azar do amor, não soube nos amar”- Acontece que ninguém mais me serve depois que você deixou de me usar. Nem meus trapos velhos.

ele:

Viramos tantas vezes aquela esquina. Tantas vezes fazendo piadas parecidas. Com o mesmo lado das mãos, daquele jeito que eu sempre aperto. A repetição nunca foi problema. Até aquele dia nunca foi problema. –“Azar do amor, não soube nos amar.”- Acontece que não quero vestir mais nada depois que deixei de te usar. Nem os trapos novos.